"O medo é o principal modo de transporte para o cancro, porque o cancro é a única palavra com seis letras que nenhum de nós quer ouvir falar."
Charles Martin (2009)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Artigo: "Cancro pode passar da mãe para o feto durante a gravidez"


Por Susana Salvador, 14 de Outubro de 2009


Bebé japonesa 'herdou' a mesma leucemia que custou a vida da mãe, mas não através dos genes. Cientistas encontraram uma anomalia no ADN das células de cancro que fez com que estas conseguissem ultrapassar a placenta - que actua como uma barreira contra as agressões externas - e o sistema imunológico da criança não as detectou como malignas.


É um caso extremamente raro, mas os médicos acabam de provar ser possível. Uma japonesa de 28 anos desenvolveu leucemia (cancro do sangue) na gravidez, tendo a mesma doença sido diagnosticada à filha quando esta tinha 11 meses. Só que o cancro não tinha sido herdado geneticamente: houve uma "infecção" no útero, segundo os resultados da investigação revelada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Em teoria, esta "infecção" não deveria ser possível, uma vez que a placenta funciona como uma barreira, bloqueando a passagem de células estranhas, como as de cancro, e o sistema imunitário do bebé devia destruir aquelas que conseguissem passar. Mas Mel Greaves, do Instituto de Investigação de Cancro, no Reino Unido, descobriu que havia uma mutação nas células malignas encontradas no bebé. O problema era no antígeno leucocitário humano (que determina a compatibilidade), pelo que o sistema imunitário não reconheceu as células do cancro como estranhas e não as destruiu.
"Parece que neste caso as células malignas maternas atravessaram a placenta até ao feto em desenvolvimento e conseguiram implantar-se porque eram invisíveis para o sistema imunitário", disse o investigador, citado num comunicado oficial. Mas lembra que os casos são raríssimos - haverá apenas 30 casos suspeitos, normalmente relacionados com leucemia ou melanoma (cancro da pele).
"A placenta é uma barreira muito efectiva para a saúde materna, de outra forma a mãe rejeitaria o bebé", disse Greaves, citado pelo jornal The Times. "Logo, mesmo se algumas células passassem, o bebé poderia lidar com elas. Mas isto prova que a mutação pode afectar o reconhecimento crítico de um humano do outro."
Este caso chamou a atenção dos investigadores depois de terem descoberto que mãe e filha apresentavam um gene de cancro idêntico com uma mutação (o BCR-ABL1). Mas a bebé não tinha herdado o gene, referem os cientistas, dizendo que a criança não teria desenvolvido este tipo de leucemia de forma isolada.
Há cem anos que os cientistas questionavam a possível "transmissão" do cancro na gravidez. "Estamos satisfeitos por ter resolvido este puzzle antigo. Mas lembramos que casos como este são extremamente raros e que as hipóteses da grávida que desenvolva um cancro o passar para o filho são remotos", disse Graves, lamentando que a descoberta seja feita graças a uma história trágica. A mulher não resistiu ao cancro; a filha encontra-se bem.
"A mensagem mais importante desta investigação fascinante é que as células da leucemia podem ser destruídas pelo sistema imunitário. Usar o poder do sistema imunitário para curar, em primeiro lugar, e depois proteger os doentes da leucemia é uma das nossas principais áreas de pesquisa", afirmou David Grant, director científico da Leukaemia Research, a organização de caridade que financiou o estudo.
O chefe do serviço de obstetrícia do Hospital de São João, Nuno Montenegro, mostrou-se céptico em relação aos resultados, lembrando contudo ao DN que não leu o estudo. Na opinião deste especialista, o cancro poderia já estar presente no património genético da mãe, transmitido à criança, tendo a tradução da doença sido contudo muito mais rápida do que o normal.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Trabalhar num projecto deste género é para nós um grande orgulho, pois sentimos que estamos a abrir os nossos horizontes e a ajudar outros a fazê-lo. Mas apesar da vontade, da força e da determinação, realizar um projecto como este é muitas vezes remar contra a corrente. O apoio nem sempre surge quando precisamos dele, apesar de nos esforçarmos por consegui-lo. É bastante complicado encontrarmos alguém que não se fique somente pelas palavras e nos ajude por meio de acções.
Ouvimos com frequência ser dito que devem ser apoiados projectos como este, mas na verdade, poucos têm intenção de o fazer realmente. Como é óbvio antes do resultado final é necessário realizar um trabalho muito árduo que nos permita chegar onde pretendemos, passo a passo, etapa por etapa. No entanto, todo o caminho que é necessário percorrer é muitas vezes ignorado, quando na verdade requer tanto ou mais apoio do que o resultado propriamente dito.
Porém, e apesar de tudo, as dificuldades não enfraquecem a vontade de vencer, pelo contrário, tornam-na mais forte. É assim neste caso e é assim na vida. Por vezes as adversidades fazem-nos olhar em redor e perceber as coisas que podemos perder. É nessa altura que compreendemos o quanto as queremos.
A doença oncológica surge no meio do caminho pondo em causa tudo aquilo que é dado como certo, agitando o mundo e fazendo-o desabar. Os pedaços que ficam tornam-se essenciais e é necessária uma luta constante para os voltar a unir. Aí, percebemos o quanto cada pedaço por mais pequeno que seja é importante e o que ele nos pode trazer se o voltarmos a encaixar no seu sítio. Ele pode não voltar a caber na perfeição, porque entretanto foi moldado pelas circunstâncias, mas ele estará lá e isso é o quanto basta para nos voltarmos a sentir novamente inteiros.

domingo, 10 de janeiro de 2010

É no terreno que realmente se aprende. É observando, é comunicando, é presenciando a realidade que conseguimos entender concretamente as características de cada coisa ou situação.
É a viver que realmente se aprende e não a ler sobre a vida ou a vê-la passar.
Anteriormente estas palavras podiam ser apenas isso, palavras. Mas agora não. Agora elas ganharam um sentido que nos permitiu ver a verdade pura que encerravam em si.
A ler sobre a doença oncológica aprendemos muito, mas nada disso se compara à sensação que experienciámos ao fazer as nossas primeiras entrevistas. Nada se iguala à riqueza das palavras de quem lutou ou assistiu à luta de alguém que amava. Nada é comparável àquilo que sentimos ao ouvir alguém pôr a alma a nu, descrevendo o que sentiu, o que pensou, o que presenciou e vivenciou.
Existem experiências ricas que, alegres ou tristes, têm muito para ensinar aos outros, devendo por isso ser partilhadas.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Situação actual do projecto


Com o início do novo ano inicia-se uma nova jornada de trabalho. Ter a oportunidade de ver e concretizar no terreno tudo aquilo que anteriormente não passava de palavras no papel, dá-nos uma alegria imensa e motiva-nos a perseguir todos os nossos objectivos. Não é fácil realizar um projecto destas dimensões, ainda mais porque nunca tamanho desafio foi realizado na nossa área de residência e de estudo, porém com esforço, determinação, vontade e responsabilidade, tudo se consegue e isso nós temos de sobra!
Inicia-se agora a realização de questionários e entrevistas, cujos resultados constituirão a base para a nossa monografia. Através deles pretendemos aferir o modo concreto como a qualidade de vida dos doentes oncológicos é afectada, fazendo-o junto daqueles que melhor o sabem, os próprios doentes e os seus familiares mais próximos.
Tal como diz o povo temos aqui "pano para mangas", mas os nossos objectivos não se ficam por aqui. Não faz sentido perceber todo o universo de uma doença como esta se depois não pretendemos dar o nosso pequeno contributo para auxiliar ainda que pouco aqueles que foram afectados por ela. Como tal, findo o trabalho teórico e cientifico, ocupar-nos-emos com a componente solidária que um tema como este requer de todos nós. Para já não pretendemos dizer muito mais sobre o que ainda está para vir, mas a seu tempo levantaremos a ponta do véu.